domingo, 28 de junho de 2015

Postado originalmente no ♥One Direction Picture♥



Allin Broke nunca pensou que sua imaginação fértil lhe traria problemas, afinal, o que poderia lhe acontecer? De fato, ela saia do ar algumas vezes durante a aula, ou durante um filme, até mesmo durante uma bronca que recebia dos pais, mas — por Deus! — Allin nunca imaginou que sua rebelde imaginação a levaria para um mundo novo, literalmente.
No entanto, por incrível que pareça, o mundo novo que Allin visita não é tão estranho para ela. Allin conhecia o gato risonho, ele se parecia um tanto com o seu melhor amigo da escola; ela também conhecia a lebre de março, que era quase um retrato perfeito do melhor amigo do cara por quem ela é apaixonada; até mesmo a lagarta que fumava narguilé se parecia com o garoto popular da sua escola, o que Allin achava apropriado, pois todos conheciam o gosto do rapaz por algumas 'viagens alucinantes'.
No entanto, além desses personagens excêntricos, Allin tem a oportunidade de conhecer um lado do garoto por quem é perdidamente apaixonada na vida real. Em seu mundo dos sonhos, o rapaz a conhece na forma de um chapeleiro louco chamado Mad Hatter, e seu nome já diz tudo.
Porém, é ao conhecer White Rabbit, o coelho branco ficcionado em chegar a tudo na hora exata, que ela encontra o seu guia turístico do mundo fantástico no qual entrara.

Personagens:

Allin Broke:
Loira, doce, sonhadora e, todavia, a mais louca e livre de sua família.
Seus pais não entendem de onde vem toda a imaginação da menina, mas Allin sabe que qualquer motivo a faz viajar por outras vidas. De tanto sonhar, criar e imaginar, Allin acaba descobrindo um mundo novo, fantástico e estranho, que tem como moradores as versões mais bizarras de seus companheiros escolares.

Coelho Branco - White Rabbit (Harry Styles):
É o cara mais pontual e cavalheiro da escola, então Allin logo o reconheceu na pele do coelho branco que lhe recebera naquele mundo fantástico. Com seu terno bem alinhado, seu vocabulário perfeito e sua pontualidade digna de um rei, White é adorado por quase todos que o conhecem, tanto no mundo real, quanto no mundo fantástico de Allin.

Gato De Cheshire - Cat Cheshire (Niall Horan):
Ele não é apenas o cara de sorriso escancarado e risada fácil, é também o melhor amigo de Allin, o cara que está sempre ao seu lado e lhe dá os melhores conselhos. E quando Allin vê seu rosto adorado e conhecido em um mundo estranho, ela se apega mais ainda ao rapaz.

Lagarta Azul - Cater Pillar (Louis Tomlinson):
Cater Pillar é adorável, talvez o cara mais fácil de se conviver na escola, afinal ele vive no mundo da lua, na maior parte do tempo o cara está chapado. Mas no mundo fantástico, Cater é um dos personagens mais sábios, apesar de estar sempre com a boca soltando fumaça por causa de seu inseparável narguilé.

Lebre de Março - March Hare (Liam Payne):
É o melhor amigo do cara por quem Allin é apaixonada, March não somente é simpático e esperto, como também é um bom amigo, assim como no mundo fantástico, embora aos olhos de Allin ele parece um pouco mais louco e desequilibrado do que na vida real.

Chapeleiro Maluco - Mad Hatter (Zayn Malik):
O rapaz lindo e levemente abobalhado que faz Allin sorrir somente por lhe dizer um 'oi'. Mad é um tanto louco, a sua desculpa é que deve agir como se é nomeado, e o seu nome já diz muito ao seu respeito, então era de se esperar que no mundo fantástico de Allin ele fosse o mais louco de todos os personagens, o chapeleiro mais louco que Allin já conhecera.













Cater Pillar:
"— Who are you?"
Alice:
"— I hardly know, Sir. I know who I was, but I think I must have changed."

Cater Pillar:
"— Quem é você?"
Alice:
"— Mal sei, Senhor. Eu sei quem eu era, mas eu acho que devo ter mudado."





Tudo certo, talvez eu esteja um pouquinho louca, só um pouquinho.
Pela enésima vez nessa semana os meus pais receberam uma ligação da escola, uma reclamação de como eu ando distraída durante as aulas, mas o que eu posso fazer? É inevitável para mim me concentrar em uma professora tagarela enquanto ela aponta para um quadro repleto de atividades. Minha mente vagueia sem permissão, não tenho culpa!
Mas não é por isso que eu me considere um pouquinho maluca, é por causa do que eu vi quando pisquei os olhos. Me sentei no sofá e encarei minhas mãos de forma culpada enquanto os meus pais falavam em tom rude sobre como eu sou distraída e de como isso me prejudica na escola.
Eu vi um buraco escuro, muito escuro. Isso não me assustou, nem um pouco, o que me pegou de surpresa foram as orelhas brancas que eu vi surgirem do buraco, eram orelhas de coelho, mas um coelho grande demais para ser considerado normal. Fechei meus olhos mais uma vez e me concentrei no coelho, ele saiu lentamente do buraco escuro e eu me espantei ao ver na minha frente White Rabbit, o cara da minha escola. Mas se fosse ele, vestido com suas roupas bem passadas e arrumadinhas, eu não teria me assustado, acontece que ele usava uma fantasia estranha, ele vestia um terno alinhado da época vitoriana, e usava orelhas brancas e felpudas de coelho, sem falar no relógio bizarro que ele tirava do bolso do paletó, me controlei para não rir.

— White? O que está usando? — perguntei risonha, ele sorriu simpático para mim.
— Estamos atrasados, senhorita, corremos agora, explico depois — ele falou rapidamente, já me tomando pela mão e me puxando para a escuridão do buraco, eu não consegui enxergar nada, apenas sentia a mão de White na minha.
— White? White? Por que está tão escuro? — perguntei temerosa, ouvi a doce risada de White bem a minha frente.
— Logo saberá, senhorita. Eu prometo.

Abri meus olhos mais uma vez e o tempo pareceu descongelar, meu pai continuou a frase de onde parou e eu suspirei assustada. Eu imaginei White vestido de coelho vitoriano? Congelei o tempo enquanto conhecia o buraco escuro para o qual White me levara? O que acabou de acontecer?

— E, pela milésima vez, como você consegue passar de ano? Sério, esse é um mistério que todos queremos saber, Allin — esbravejou meu pai, o encarei estupefata.
— D-desculpe, eu... — respirei fundo e olhei do meu pai para minha mãe, que aguardavam uma resposta plausível. — Eu não sei, papai. Apenas sei o que fazer durante as provas, não sei como explicar.
— Querida, eu realmente acho que você deve considerar a possibilidade de conversar com um psicologo, talvez você sofra de Déficit de Atenção, nunca saberemos se você não ceder e procurar um médico — falou minha mãe, usando o tom doce e amável de quando quer convencer alguém a fazer algo.
— Mãe, eu não estou louca. Okay? Esqueça! — esbravejei me pondo de pé e saindo da sala, ambos suspiraram revoltados e me deixaram ir para o quarto.

Tranquei a porta do quarto e me joguei em minha cama, fechei os olhos por um milésimo de segundo e vi as orelhas brancas de White novamente, me assustei, porém logo me recompus e voltei a fechar os meus olhos. White ainda estava segurando minha mão, mas agora o buraco já não estava mais escuro, estávamos em uma sala cheia de portas, portas de todos os tamanhos; pequenas, grandes, minúsculas, enormes. Olhei em volta bem atenta e surpresa, White sorriu e soltou a minha mão.

— Senhorita, eu tenho uma missão para você, agora — disse White, encarei-o intrigada e ele agitou a mão, apontando para as portas.
— Missão? Que tipo de missão? — perguntei receosa, White riu, sua doce e melodiosa risada quase me fez rir também, mas eu estava confusa demais para rir com ele.
— Eu tenho aqui uma chave, senhorita. Sua missão será encontrar a porta que será aberta por essa chave — falou White, ele ergueu a mão me mostrando a chave dourada, a chave parecia ser antiga, tinha detalhes pequenos e delicados que davam um ar elegante à chave, e ela era grande. — Mas — ele continuou quando estiquei a mão para pegar a chave — você tem apenas 10 minutos para encontrar a porta, caso contrário irá ver tudo tão grande e majestoso quanto as árvores frondosas de uma floresta gigante. Lembre-se apenas que o tamanho de um objeto não quer dizer que o seu respectivo seja como tal.

Guardei as palavras de White e a chave pousou em minha mão, mas quando eu voltei a encarar White, ele havia desaparecido, simplesmente sumiu. Francamente!

— White Rabbit, onde você está? — gritei espantada. — White? — tentei mais uma vez ao olhar em volta, foi quando realmente fiquei apavorada.

As portas que haviam quando entramos na sala haviam se duplicado, agora havia cerca de cem portas de todos os tamanhos a minha volta, um letreiro enorme brilhava no teto, marcando o tempo que ainda me restava, eu já havia perdido um minuto.
Não pensei duas vezes, corri na direção da primeira porta que vi e enfiei a chave na fechadura, mas a chave era grande demais, corri para a seguinte porta e, novamente, a chave era grande demais. Tentei mais vinte portas antes de perceber que as portas grandes tinham as fechaduras pequenas ou grandes demais para a minha chave, então testei todas as portinholas pequeninas que se quer chegavam aos meus joelhos.
O relógio marcava 20 segundos quando eu consegui achar a porta que acolhia a minha chave perfeitamente, girei a chave e a porta produziu um clique alto demais, a porta se abriu sozinha e eu caí sentada no chão frio, surpresa demais para continuar perto daquela porta minúscula.

— White? White! Eu consegui, o que faço agora? White, cadê você? — gritei para qualquer lugar a minha volta, não obtive resposta, fiquei assustada pela primeira vez. — Ah, meu Deus! White... — choraminguei assustada, a paisagem além da porta não era muito convidativa.

O breu dominava tudo além da porta, eu não estava muito ansiosa para me enfiar em um lugar escuro sem White para segurar a minha mão, sabe-se-lá o que me aconteceria lá dentro. Então eu continuei sentada no chão frio, encarei a portinhola aberta para o breu completo, olhei em volta na sala e reprimi um grito quando vi o teto se aproximar de mim. A sala estava encolhendo, meu Deus, o teto me esmagaria se eu não me mexesse rápido.
Me pus de quatro e engatinhei para dentro da porta, imediatamente minha visão ficou escura, mas eu continuei a engatinhar, minhas mãos e meus joelhos deixaram o piso frio e tocaram algo fofo e molhado, me assustei momentaneamente, mas continuei a engatinhar, logo percebi que eu estava tocando terra molhada e, possivelmente, grama fresca e úmida. Continuei a engatinhar no escuro, até que bati de cabeça em algo duro e quente, levantei a cabeça e White estava em pé bem na minha frente, eu havia batido em seus joelhos cobertos pela calça social preta e impecavelmente limpa.

— White! — guinchei irritada, ele riu, dessa vez não resisti a sua risada deliciosa e logo ri junto com ele.
— Senhorita, você achou a porta. Meus parabéns! — ele esticou a mão e me ajudou a levantar. — Perdoe-me por abandoná-la, mas há momentos em que você terá que agir sozinha.
— Sim, tudo bem. Eu entendo — resmunguei limpando os joelhos e as mãos, então percebi que eu não estava usando meus jeans surrados, mas sim um vestidinho rodado azul bebê com detalhes pretos que ia até os joelhos, era muito bonito e combinava com meu tom de pele, White sorriu ao me ver notar o vestido.
— Está linda, senhorita. Espero que tenha gostado tanto quanto eu deste vestido, combinou com a sua pele — disse White pomposamente.
— Obrigada, é muito bonito, devo admitir.

White então estalou os dedos, chamando minha atenção de repente, só então percebi que estávamos em um lugar diferente, havia a terra fofa e úmida que formava uma trilha, grama e plantas ao nosso redor, cogumelos e árvores para todos os lados, sem falar nas lindas flores que cheiravam maravilhosamente bem, fiquei admirada, olhando a nossa volta boquiaberta e encantada com a linda paisagem.

— Mas... Minha nossa, que lugar lindo — murmurei encantada, White sorriu orgulhoso.
— Vamos, senhorita, quero mostrar-lhe o meu mundo. Não temos tempo o suficiente para apreciar a paisagem, já estamos atrasados — disse White, ele então ofereceu-me seu braço, segurei em seu braço coberto pelo blazer perfeitamente alinhado e ele me guiou pela trilha de terra fofa e úmida.
— White, o que estou fazendo aqui? — perguntei enquanto olhava ao nosso redor, apreciando a paisagem exótica.
— Bem, está aqui para nos conhecer, senhorita. Somos todos muito acolhedores, não se preocupe, exceto por alguns casos a parte, você irá adorar o nosso mundo — explicou White, sua voz era firme e quase rouca, fiquei hipnotizada com a forma como sua boca fina e avermelhada se movia.
— Ah sim, claro. Mas... Que mundo é esse, especificamente? — perguntei intrigada, White sorriu, meu coração palpitou.
— O País das Maravilhosas, senhorita — ele falou como se fosse óbvio, e sorriu mais uma vez para mim.
— Está brincando? — perguntei incrédula e divertida. — Eu estou em um livro de conto de fadas ou o quê? Estou em um livro de Lewis Carroll? — desdenhei voltando a olhar a minha volta, os cogumelos começaram a crescer, tanto que já estavam maior do que nós.
— Lewis Carroll, senhorita? — perguntou White, confuso.
— Ah, esqueça. Pode me fazer um favor? — perguntei, ele assentiu com a cabeça. — Pode parar de me chamar de 'Senhorita'? É tão estranho.
— E quer que eu a chame de Allin? — ele perguntou, esboçando um sorrisinho tímido adorável.
— Sim, por favor. É assim que todos me chamam no mundo real — murmurei distraidamente, White engasgou.
— Perdão, mundo real? Nós estamos no mundo real, senhorita! — encarei-o eviesadamente e ele se corrigiu — Digo, Allin.
— Obrigada. E não, esse não é o mundo real para mim — murmurei, ainda espantada com o tamanho dos cogumelos a medida que avançávamos na trila de terra fofa.
— Mas é para mim, Allin! Esse é o meu mundo real, o nosso — falou White, em um tom levemente irritado, ele gesticulava com a mão, indicando a paisagem ao nosso redor.
— Tudo bem, desculpe. Indelicadeza a minha sugerir que esse não é o mundo real — murmurei arrependida, obviamente esse é o mundo dele e eu não quero insultá-lo.
— Tudo bem, só não volte a repetir isso, algumas pessoas não levariam esse comentário tão bem quanto eu — ele avisou, assenti e apertei seu braço suavemente.
— Não repetirei, prometo! — garanti docemente, ele voltou a sorrir.

White tirou o relógio do bolso interno de seu blazer e conferiu as horas, então ele pareceu ficar mais apressado que o normal e apertou o passo, me fazendo andar mais rápido ainda, não falei nada, apenas o segui.
Andamos em silêncio por um longo tempo, os cogumelos já mediam quase dois metros de altura e as árvores foram sumindo aos poucos, vi alguns animais passarem ao nosso lado, coelhos, gazelas, patos, animais de todos os tipos.
Então uma névoa densa tomou a atmosfera, White pareceu mais ansioso ainda, a névoa deixava tudo esbranquiçado e difícil de enxergar. Fiquei apreensiva e tensa. White sorriu de forma embriagada.

— White, onde estamos? — perguntei intrigada.
— Vamos conhecer alguém especial, Allin. Confie em mim — ele falou docemente.
— Eu confio — sussurrei temerosa, White riu.
— Essa é a Floresta Densa, senhorita. Uma pessoa muito sábia vive aqui — explicou White com um sorriso divertido e intrigante nos lábios.
— De verdade? Bem, estou ansiosa para conhecer essa pessoa — murmurei olhando a nossa volta constantemente.

Uma melodia suave se fez notar, era como se alguém estivesse cantarolando bem ao pé do meu ouvido, White ficou mais sorridente ainda. A melodia era tão fascinante que eu comecei a me sentir leve e sonolenta, me sentia embriagada e feliz, White praticamente flutuou até chegarmos à frente de um cogumelo especialmente gigante.
Olhei para o topo do cogumelo, lá estava um rapaz sentado de pernas cruzados, no meio de suas pernas havia um narguilé produzindo bastante fumaça, o rapaz parecia leve e contente, esboçava um sorriso lunático e eu o reconheci, aquele era Cater Pillar, que coisa, meus colegas todos vivem nesse mundo extraordinário?

— Cater Pillar? — perguntei incrédula. O rapaz sorriu. Ele usava um macacão azul com anteninhas na cabeça, havia dobras no macacão que o fazia parecer uma lagarta enorme, achei a fantasia engraçada.
— Eu deveria conhecê-la? — ele perguntou, em seguida sorriu.
— Bem, não sei. Eu mesma deveria me conhecer, mas desde que cheguei aqui tudo o que sei é que me chamo Allin Broke — murmurei sentindo-me confusa, Cater riu.
— Allin Broke — ele falou em um tom alto e firme, não parecia estar chapado, pelo contrário. — É um imenso prazer recebê-la em nosso País das Maravilhas.
— O-obrigada — gaguejei impressionada, encarei-o estupefata e quase esqueci que White estava ao meu lado.
— Cater Pillar, precisamos chegar ao fim da Floresta Densa, precisamos da sua autorização — disse White, Cater riu.
— É claro que precisa, meu amigo! Quem é que não precisa — ironizou Cater, todo risonho e orgulhoso.
— O que vamos fazer, afinal? — perguntei confusa, sem conhecer os reais motivos para estar nesse mundo estranho, os dois me encararam fixamente, saia fumaça da boca de Cater, aquilo me fez sorrir.
— Ninguém explicou a você, menina tola? — perguntou Cater, sua voz calma, mas ao mesmo tempo firme e alta.
— Não mesmo, e eu não acho que sou tola — murmurei dando de ombros.
— Ah, mas que desastre. Pensei que você estava encarregado disso, White Rabbit — falou Cater, direcionando seu olhar para White, ele corou um pouco, o que eu achei muito fofo.
— Não, Cater. Eu estou apenas apresentando-a ao nosso País das Maravilhas. Penso que você deva dizer algo para tirá-la do escuro — murmurou White, encarei os dois confusa, não entendo nada com nada. — E rápido, já estamos atrasados — lembrou White, voltando a checar o seu relógio de bolso.
— É claro que estão, você sempre está atrasado, White. Deveria sentar-se comigo qualquer dia e relaxar um pouco — propôs Cater mostrando o narguilé para White, que sorriu e negou com a cabeça.
— Você sabe que não posso. Agora, vamos logo com isso, Cater — falou White, impaciente.
— Tudo bem, tudo bem. Allin Broke, você percorrerá todo esse lindo País, conhecerá pessoas, visualizará uma vida nova, amará cada pequeno pedaço do nosso mundo, mas no final você terá uma escolha difícil a fazer. Ficará conosco, menina? Ou buscará a saída de nós? Voltará para sua vida ilusória, ou ficará por aqueles que realmente a amam? Busque aqueles que demonstram um pouco mais de compaixão, sua caminhada será curta, com as pessoas certas ao seu lado você conseguirá fazer a escolha certa.

Então Cater se calou, esperei que ele dissesse algo mais, no entanto, ele apenas enfiou a ponta do narguilé na boca e puxou a fumaça, White tocou meu ombro.

— Podemos ir agora, Cater? — perguntou White, Cater apenas acenou com a mão e a fumaça se dispersou, deixando à mostra a trilha de terra fofa para seguirmos.
— Dê uma chance ao seu coração, menina. Esse é um mundo diferente do que você conhece — foram as últimas palavras de Cater.

White me empurrou e continuamos a andar pela trilha de terra fofa, tentei olhar para trás algumas vezes, mas a névoa já voltara a encobrir Cater Pillar e o seu cogumelo gigante. Segui em silêncio ao lado de White, ele apertou meu ombro suavemente e não falou nada.

— Ele... Vou... Vamos voltar a vê-lo? — perguntei depois de um tempo, White sorriu.
— Eu espero que sim. A Floresta Densa costuma aparecer nos momentos mais inesperados. Cater Pillar dá conselhos ótimos na maioria das vezes, você deveria ouvi-lo, em todo caso... — murmurou White. Sua postura relaxou um pouco, acho que a fumaça do narguilé e o encontro com Cater Pillar o ajudou a ficar menos estressado.
— Isso vale para o meu mundo também? Porque ele não fala coisa com coisa quando o vejo na escola — murmurei divertida, White riu.
— É, eu acho que isso vale para o Cater Pillar do seu mundo também.

A trilha de terra fofa e úmida continuava até a vista não alcançar mais, porém os cogumelos foram sumindo aos poucos. As árvores voltaram a dominar o cenário, juntamente com as flores e as plantas exóticas. White voltou a me oferecer o braço e eu me agarrei a ele com gosto.

— Você disse que no seu mundo havia um Cater Pillar e, quando nos vimos pela primeira vez, você sabia o meu nome... Se importa se eu perguntar como? — perguntou White, depois que andamos um bom pedaço em silêncio.
— No meu mundo há um Cater Pillar, só que sem fantasia de lagarta azul. E no meu mundo também há um White Rabbit, só que sem fantasia de coelho branco — murmurei acariciando a lapela de seu paletó lindo, ele sorriu incrédulo.
— Fantasia? — ele perguntou divertido, ambos rimos.
— Deixe para lá, não quero insultá-lo de novo, acho que piso em ovos quando falo do meu mundo aqui — murmurei olhando a paisagem em volta, as árvores ficavam cada vez mais frondosas e lindas. — Então, para onde vamos agora?
— Vamos para o chá da tarde — ele falou animado, e checou o relógio de bolso pela terceira vez.
— Chá da tarde? Mas ainda está longe de ser 6 da tarde — murmurei confusa, o horário britânico para tomar chá são às 6 da tarde.
— Ah, não se preocupe, conheço uns amigos que param no tempo e vivem tomando chá da tarde — falou White, com um sorriso misterioso brotando nos lábios, fiquei intrigada. — Acho que eles contribuirão na sua decisão de permanecer ou sair do nosso País das Maravilhas.
— Jura? Bem, ainda não tenho uma opinião formada sobre isso — murmurei apertando seu braço, ele sorriu.








Mad Hatter: 
"— Have I gone mad?"
Alice: 
"— I'm afraid so. You are completely crazy. But I'll tell you a secret. All the best people are."

Mad Hatter: 
"— Eu estou louco?"
Alice: 
"— Temo que sim. Você é totalmente maluco. Mas eu vou te contar um segredo. Todas as melhores pessoas são."




White e eu caminhamos pelo caminho de terra úmida, a paisagem era bela e eu não me cansava de apreciá-la, o som dos pássaros por perto deixava tudo mais agradável, até White parecia genuinamente contente em estar passeando pelos caminhos comigo.
Então as árvores grandiosas e fartas de folhas começaram a ficar mais próximas umas das outras, bloqueando a luz do sol e deixando o caminho mais escuro e sombrio que o normal, olhei de soslaio para White e seu sorriso havia desaparecido.

— White? Onde estamos? — perguntei temerosa, ele forçou um sorriso, tentando me tranquilizar.
— Entramos em outra floresta, Allin. Nada demais, assim que sairmos daqui chegaremos ao chá, não se preocupe — ele explicou calmamente. — Se bem que deveria, já estamos atrasados — ele sussurrou ao consultar mais uma vez o seu relógio de bolso.
— Você e o seu relógio — murmurei divertida, ele arqueou uma sobrancelha e acabou rindo também.
— É, uma comédia, de fato. White Rabbit e o seu relógio constantemente adiantado — falou alguém desconhecido, olhei para White confusa e ele revirou os olhos.

Paramos de andar e olhamos em volta, a procura de quem quer tivesse falado, mas não havia ninguém na floresta além de White e eu.
Ouvimos uma risada melodiosa que fez todas árvores tremerem, mas eu não fiquei com medo, eu senti vontade de rir também, a risada era contagiante e muito gostosa, quase tanto quanto risada de bebê. White permaneceu sério e levemente irritado.

— O que há, White? Não se diverte tanto quanto a senhorita? Talvez se você tentasse um pouco... — provocou a voz, olhei curiosa para White.
— Apareça de uma vez, Cat. Está assustando a senhorita Broke! — irritou-se White.
— Cat Cheshire? — perguntei surpresa, White assentiu e massageou as têmporas, como se estivesse muito estressado.
— Eu mesmo, senhorita — concordou o galante rapaz, saindo de trás de uma árvore de tronco especialmente grande.

Cat Chesire! O meu melhor amigo! Meu Deus, eu deveria imaginar, a risada dele é inconfundível.
Cat estava vestido dos pés a cabeça com um macacão felpudo listrado de cor azul e preta, sem falar no bigode que ele tinha grudado no nariz, pintado de preto, e as orelhas felinas em sua cabeça. Cat estava tão fofo que eu logo corri para abraçá-lo. Ele riu.

— Allin Broke, estou de fato surpreso com tamanha demonstração de afeto — ele falou sorridente. — Mas é bem vinda sempre que quiser um abraço.
— Obrigada. Perdoe-me, você está tão fofo, não resisti — murmurei me afastando lentamente, havia me esquecido que eu não o conhecia nesse mundo, apenas no meu mundo.
— Vou encarar isso como um elogio — ele falou pomposamente enquanto acariciava os bigodes grudados em suas bochechas.
— Allin, precisamos ir. Não temos tempo para você agora, Cat, estamos atrasados! — falou White de repente, havia me esquecido que ele estava ali.
— Ah, permita-me acompanhá-los então, White. Estou com sede e sinto falta da companhia excêntrica do March e do Mad. Sabe, faz falta a insânia daqueles dois — ofereceu-se Cat, pondo-se a andar ao nosso lado e colocando minha mão em seu braço, eu já segurava no braço de White do lado oposto.
— Sinta-se à vontade, Cat. Uma companhia a mais nos fará bem — murmurei olhando de relance para White, ele retribuiu meu olhar de esguelha e deu de ombros, mas continuou sério.
— Tanto faz, só apressem o passo, porque... 
— Estamos atrasados — falamos Cat e eu em uníssono, em seguida rimos. Desta vez White não resistiu e riu conosco.
— Touché, companheiros — rendeu-se White, agora sorridente e mais relaxado.

Continuamos andando lado a lado, a floresta foi se tornando mais clara a medida que avançávamos, e enquanto trocávamos palavras de vez em quando, eu me lembrei dos nomes que Cat havia pronunciado. March e Mad. March Hare e Mad Hattler? Será possível? Ah, meu Deus, Mad Hattler também está aqui?!

— Cat, posso fazer uma pergunta? — perguntei suavemente.
— Todas que possa existir, querida. Até mesmo as que não existem, eu permito que vocês as crie e as faça para mim. Será uma honra respondê-las — falou Cat orgulhosamente.
— Okay. Ah... Você mencionou March e Mad. Quem são esses? — perguntei sutilmente, White tossiu propositalmente.
— Você logo saberá, Allin, espere só um pouco — falou White, calando a boca de Cat sutilmente.

Eu comecei a ficar impaciente, a floresta não acabava nunca e meus pés começavam a doer de tanto andar, Cat já estava rindo do meu estresse quando White abriu um largo sorriso e anunciou:

— Hora do chá, senhorita — olhei intrigada e ele balançou a mão em direção a um pasto de grama baixa e verde, havia uma mesa enorme completamente bagunçada, cheia de bules de chá, xícaras de todos os tipos, bolos, biscoitos.
— Estão atrasados! — berrou alguém sentado à mesa, em seguida senti alguma coisa voar acima da minha cabeça, olhei para trás e vi uma xícara quebrada, ela passou de raspão pela minha cabeça, ele quase me acertou uma xícara de chá!
— Mas que por...
— Caria! — completou White, me olhando de olhos arregalados em uma advertência pelo palavrão, eu apenas ri.
— Desculpe, mas tentaram me acertar uma xícara, isso não tem cabimento — resmunguei e puxei Cat, colocando-o a minha frente, como um escudo, ele riu.
— Você terá que desviar de muitas xícaras por aqui, Allin — comentou Cat, aceitando o desafio de ser meu escudo.
— Andem, rápido, eu quero tomar chá! — apressou-nos White.

Nos aproximamos da mesa vazia, com dois lugares ocupados, olhei para os dois rapazes sentados à mesa e senti meu coração acelerar, comecei a suar e a gaguejar. Mas que merda. Mad Hattler, eu sabia que seria ele, mas não estava preparada para isso, realmente.

— Mad? March? Ah, meu Deus. Eu preciso de chá — resmunguei deixando-me cair em uma cadeira que White havia puxado para mim.
— Allin! Que prazer em vê-la! Chá, chá, chá. Aqui está o seu chá, querida! — gritou Mad, ele levantou-se da cadeira e subiu em cima da messa, correndo por entre a porcelana e a comida para chegar até mim, estendi minha xícara meio relutante e ele a encheu de chá fumegante, ele sorria largamente e me encarava com olhos arregalados, lindos olhos castanhos arregalados.
— Chá! Obrigada. — Sussurrei relutante, ainda assustada com sua correria por cima da mesa.
— Não se preocupe, Mad tende a ser apressado assim mesmo — falou Cat, ele sentou-se ao meu lado e estendeu a xícara, Mad a encheu de chá também.
— Cat Cheshire, que honra. Quanto tempo não nos vemos? Bastante, não é mesmo? — tagarelou Mad, sorri de forma afetuosa, não conseguindo me conter ao olhar para Mad.
— Estão atrasados! — gritou March e arremessou outra xícara de chá em nossa direção, dessa vez consegui desviar dela bem a tempo, Cat ficou apenas rindo da minha cara.
— Sentimos muito por isso, March. Cat nos atrasou um pouco — murmurou White, servindo-se de um bolinho de trufas.
— Ei, não foi culpa minha! Pode ir parando, senhor White — reclamou Cat, March riu de forma insana, o que me fez rir também, Mad sentou-se em uma cadeira ao meu lado e caiu na gargalhada também.
— Sabe, senhorita, pode parecer loucura, mas senti a sua falta, mesmo a senhorita nunca ter vindo nos ver antes — falou Mad, encarando-me com seu sorriso insano, semicerrei os olhos, estudando-o atentamente, então sorri enamorada, ele é lindo, mesmo fantasiado como um maluco.
— Sabe, Mad, desde que cheguei aqui eu percebi que tudo parece loucura, então não se preocupe com isso — murmurei, então levantei minha xícara e ele encostou a dele na minha, em um brinde silencioso.
— Não me preocupo mais, é fabuloso tê-la conosco, Allin — ele falou docemente, seus olhos castanhos brilharam e ele estava tão perto que eu tive de resistir ao impulso de me inclinar um pouco para beijá-lo, meu Deus, ele é tão lindo.

Ainda estávamos próximos um ao outro e nos encarando, o Mad e eu, quando ouvimos o alarde. Olhei em volta assustada com tamanho barulho, White gemeu de medo, Cat rapidamente desapareceu embaixo da mesa, March se desesperou e começou a tremer, mas conseguiu encher uma xícara de chá e fingir que estava bebendo, Mad fez o mesmo. Olhei para White, esperando algum esclarecimento, ele respirou fundo e pegou a própria xícara.

— São os caçadores da rainha vermelha, minha querida. Apenas respire e aja como se tomasse chá todos os dias com esses malucos — disse White, dando um gole em sua xícara.
— Mas... Cat está embaixo da mesa — sussurrei consternada, vi no alto do monte verde um exército de homens fantasiados de cartas de baralho marcharem em nossa direção, reprimi um gemido de pavor.
— Ele é medroso demais para segurar a onda conosco, senhorita, deixe-o onde está — falou March, ainda tremendo, seus olhos estavam vidrados no exército de cartas.
— Ah, mas que calúnia, eu só não estou apresentável para cumprimentar o nosso querido Stan — guinchou Cat de debaixo da mesa.
— Como quiser, maldito covarde — resmungou Mad.

O exército de cartas se aproximou rapidamente, seguindo-os de perto vinha um homem grande montado em um cavalo majestoso, o homem era musculoso e usava um tapa-olho sobre um cicatriz enorme em seu olho esquerdo, o reconheci como Valete de Copas, era ele quem comandava todo o exército de cartas, o sorriso dele era tão macabro que eu me arrepiei inteira e desviei o olhar dele para Mad, que estava ao meu lado.
Mad tentou sorrir para me reconfortar, mas percebi que ele estava em alerta, pronto para qualquer coisa, ele passou um braço pelos meus ombros de forma protetora antes que o tal Cavaleiro se aproximasse mais.

— Sir Stan, que honra recebê-lo em nossa mesa de chá — saudou Mad, levando a própria xícara à boca.
— É, que seja. Vim ver o que estão aprontando por aqui — respondeu o homem rudemente.
— MAS É HORA DO CHÁ!! — gritou March e arremessou uma xícara na direção do cavaleiro, mas ele desviou e a xícara acertou bem em cheio a testa de um dos guardas. Todos em volta da mesa riram, inclusive Cat, que estava embaixo da mesa.
— Seu... — praguejou o cavaleiro, olhando ameaçadoramente para March. — Ora, ora. Mas quem é essa senhorita? — os olhos dele se desviaram lentamente para mim, estremeci, Mad apertou seu braço ao redor de mim.
— Essa é a senhorita Allin Broke, ela veio nos... Hum... Nos visitar — gaguejou White, se escondendo atrás de sua xícara de chá.
— Hum... Visitar... — repetiu o cavaleiro, testando a palavra e seus conceitos. 
— Sim, a senhorita Broke veio conhecer o nosso querido país, estamos nos encarregando de apresentá-lo a ela — continuou White, tomando coragem o suficiente para não gaguejar.
— Ah, uma novidade que a rainha Vermelha vai adorar saber, uma intrusa em seu reino — falou Stan, esboçando um sorriso ameaçador, March soltou um grito esganiçado e puxou as orelhas.
— Contem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! — gemeu March, tampando as grandes orelhas de mentira e fechando os olhos, White deu tapinhas no ombro dele, tentando acalmá-lo.
— Exatamente, meu caro Hare. Cortem-lhe a cabeça... — Stan riu, sua risada era tão esquisita que eu não resisti e tampei os ouvidos, ele fixou os olhos negros como ébano em mim, me arrepiei inteira.
— Mas el não precisa saber, afinal, a visita não é para ela — disse Mad, sua voz estava calma e séria, ele estava propondo algo a Stan.
— O que quer dizer com isso, Mad? — perguntou Stan, arqueando uma sobrancelha.
— Eu quero dizer que ela irá embora no fim do dia, assim a nossa rainha não precisará saber de sua presença. Sem problemas, sem cerimônias de decapitamento, sem trabalho para você, querido Stan — propôs Mad, Stan acariciou o queixo enquanto ponderava sobre o assunto.
— É, talvez isso seja bom para mim. Mas eu estarei a procura dela assim que o sol se por, se eu encontrá-la por aqui, levarei-a à rainha — disse Stan, fiquei petrificada e gelei.
— Não a encontrará, se encontrar, eu mesmo me prontifico para ir até a rainha e ter minha cabeça cortada — garantiu Mad, olhei-o estupefata, ele continuou encarando Stan friamente.












March Hare: 
"— I have an excellent idea! Let's change the subject!"

March Hare: 
"— Tenho uma excelente ideia! Vamos mudar de assunto!"




— Não a encontrará, se encontrar, eu mesmo me prontifico para ir até a rainha e ter minha cabeça cortada — garantiu Mad, olhei-o estupefata, ele continuou encarando Stan friamente.

Stan sorriu, divertido com a hipótese de Mad perder a cabeça, literalmente. Ele levantou a mão e todo o exército de cartas deu meia volta, os rapazes suspiraram aliviados, inclusive Cat, que ainda estava embaixo da mesa. Stan continuou encarando Mad friamente, com um sorriso endiabrado nos lábios.

— Ah, é uma cena adorável, Mad Hatter perdendo a cabeça — Stan se vangloriou, todos os que estavam à mesa riram, até mesmo eu.
— Coitadinho, mal sabe ele que Mad já perdeu completamente a cachola — guinchou Cat, morrendo de rir embaixo da mesa.
— Cale-se, idiota! — gritou Stan. — Eu estou falando no sentido literal, físico. Aliás, todos vocês perderam a cabeça no sentido metafórico.
— Vamos cantar! — gritou March, White, Mad e, até mesmo, Cat se empertigaram e logo começaram a cantar uma versão distorcida de Tinkle, Tinkle, Little Star.
— "Tinkle, tinkle, little bat, how I wonder what you're at! Up above the world you fly, like a tea-tray in the sky!" — eles cantaram em coro.
— Vocês são completamente loucos! — gritou Stan, quase puxando os próprios cabelos de tão irritado, eu não pude fazer nada a não ser rir.
— Ora essa, eu tive uma grandessíssima ideia! — berrou March ao final da música. — Oh, não. Vamos mudar de assunto!
— Mas a música estava adorável, alguém quer mais chá? — perguntou Mad, enchendo a xícara de White de chá, mas a xícara estava com o fundo furado e o chá se espalhou por toda a mesa, March caiu na gargalhada.
— Colher! — gritou March, arregalando os olhos para a colher que ele segurava, ele aparentava estar aterrorizado com aquele utensílio, o que me pareceu bizarro e mais engraçado ainda.
— Colher? O que tem a colher, March? — perguntei divertida.
— Colheres são medonhas — cochichou Mad, March atirou a colher longe, na direção de Stan, que se revoltou e foi embora xingando, todos bateram palmas e eu entrei no grupo.
— Quando os gatos se vão, os ratos fazem a festa! — comemorou White.
— Ei! Péssimo trocadilho — resmungou Cat, saindo de debaixo da mesa e voltando para a sua cadeira.
— Você não tem direito a reclamar, seu gato medroso — brigou Mad, March atirou um pires de porcelana em direção a Cat, mas ele desviou a tempo.
— Vocês são loucos — resmungou Cat, todos começaram a rir, inclusive eu. Acho que loucura é algo contagioso, ou talvez a normalidade é que seja uma doença.
— Vamos nessa, temos pouco tempo para mandá-la para casa — disse White, levantando-se relutante de sua cadeira.
— Vamos acompanhá-los, não suporto a ideia de deixar a senhorita Allin sozinha com dois loucos — prontificou-se Mad, March gritou algo em concordância e arremessou um garfo em minha direção, Mad me empurrou para o lado e eu consegui me safar das pontas afiadas do talher.
— Ufa, foi por pouco! — murmurei surpresa, March caiu na gargalhada, aquela risada insana e contagiante.
— Olha quem fala, o homem que tem como nome"Louco" — debochou Cat, jogando um biscoito amanteigado na boca.
— Vamos de uma vez, não temos o dia inteiro — reclamou White, todos se puseram de pé rapidamente, inclusive eu.
— Bem, então o que faremos? Como vou voltar para casa? — perguntei intrigada, os rapazes suspiraram tristemente e eu me senti péssima, não queria ir embora, passei tão pouco tempo com eles e já me apaixonara por cada um deles.
— Você tem que dar à volta ao mundo, quer dizer, ao País das Maravilhas — explicou White, se antecipando na frente de todos e descendo a campina verde e bonita. — Então temos que correr.
— Caramba, sorte sua que nosso País é pequeno — brincou March.

Seguimos White pela campina, ao olhar para trás percebi que March estava trazendo um bule de chá e Cat trazia um pratinho com biscoitos amanteigados, peguei dois biscoitinhos e corri para acompanhar Mad e White, Mad pegou um dos meus biscoitos e o jogou na boca, não contive um sorriso apaixonado.
O caminho continuou pela grande campina, o tempo estava ficando curto, mas nós cinco continuamos brincando ao longo do caminho, apenas White estava tenso com o curto prazo que tínhamos, a todo instante ele consultava seu relógio de bolso, como quando me encontrou pela primeira vez. 
O sol estava quase se pondo quando entramos em uma floresta densa e escura, eu me lembrei de Cater Pillar, acho que isso contribuiu para que uma névoa tomasse algumas partes da floresta, March e Cat, que estavam para trás, correram para nos alcançar, com receio de se perderem.

— Opa, voltamos à Floresta Densa, senhorita Allin — avisou White. — Devo admitir que antes que o previsto, Cater está conspirando ao nosso favor.
— Meu velho amigo!!! — gritou March e saiu correndo em direção ao cogumelo mais alto.

Assistimos com diversão a luta que March teve para escalar o cogumelo gigante e sentar-se ao lado de Cater Pillar, mas, ao contrário do que eu pensava, ele não se referia ao Cater quando chamou pelo melhor amigo, mas sim ao narguilé que ele tomou da mão dele com agilidade, Cater revirou os olhos com irritação, mas deixou que March se divertisse com a fumaça.

— Menina Allin, você de novo. Creio que está bem perto de sua decisão final — disse Cater voltando seus olhos vidrados para mim.
— Sim, eu também creio, embora não esteja feliz com isso — resmunguei encarando os meus próprios pés.
— É claro que não está, obviamente o País das Maravilhas e a maioria das pessoas que o habitam são boas demais para deixá-las, não é mesmo? Aqui os corações são mais receptivos que no seu mundo, estou certo? — Cater sorriu de forma dramática, olhando de mim para Mad, eu fiquei vermelha como um pimentão, Mad sorriu envergonhado.
— Ora, deixe de tolice, Cater. Temos até o por do sol para levá-la embora, ou a Rainha Vermelha cortará-lhe a cabeça — interpôs White, Cater bufou.
— White, estou tentando mudar a opinião da menina, será se poderia se calar? — irritou-se Cater, White inflou e ficou vermelho, mas não de vergonha.
— E eu estou tentando mantê-la viva, para começo de conversa, se ela ficar não percebe o quanto de problemas criará? Talvez não seja a hora, ano ou década certa para estar conosco — rebateu White, Cater balançou a cabeça, concordando pensativo.
— Em todo caso, estou preparando o terreno para quando ela retornar — falou Cater.
— Irei retornar? — perguntei esperançosa.
— Ela irá retornar? — perguntaram March, Mad e Cat, em tons esperançosos iguais aos meu.
— Quem sabe... Algum dia, talvez — murmurou Cater, misterioso e orgulhoso de si mesmo. — Mas isso não vem ao caso, como meu querido amigo White fez questão de gritar a plenos pulmões, estamos tentando manter a menina viva, então vão de uma vez — ordenou Cater, balançando a mão.

Como em um passe de mágica toda a névoa branca que cobria a trilha se esvaiu lentamente, voltando para dentro do narguilé, que agora retornara para a mão de Cater, deixando March desolado.

— Até logo, Allin Broke. Da próxima vez que nos vermos, eu espero que você esteja um pouco menos tola — despediu-se Cater, acenei com a mão.
— Não que eu seja tola agora — resmunguei seguindo White pela trilha de terra úmida.
— Eu ouvi isso, menina. Para mim continua sendo tola — gritou Cater.
— É o que veremos — rebati dando de ombros, ouvi a risada melodiosa dele a medida que me afastava com White, Mad, Cat e March em meu encalço.

Andamos em silêncio por dois segundos, até Mad aparecer ao meu lado com um gigantesco sorriso nos lábios, ele parecia contente, foi inevitável não sorrir com ele.

— Você vai voltar, isso é reconfortante — ele falou docemente, então segurou minha mão e levou-a aos lábios para beijar, quase me derreti.
— Se fosse possível, eu nem iria mais para casa — murmurei tristemente, mas ainda sorrindo.
— Mas você vai voltar, foque no lado positivo — ele riu, White ia a nossa frente e eu pude ouvir ele rir também.

Depois disso, Cat agarrou no meu braço oposto ao que Mad segurava minha mão, March e White seguiram na frente e todos nós andamos em um silêncio confortável, quebrado algumas vezes por March cantarolando a versão distorcida de Tinkle, Tinkle, Little Star.
Quando avistei uma porta minúscula no meio do nada, meu corpo inteiro ficou gelado. Eu não queria ir embora.
Todos paramos em frente à porta, havia uma mesa ao lado dela e em cima da mesa havia um bolo pequenino e uma garrafa minúscula de um líquido transparente, White pegou os dois e ofereceu a garrafa para mim.

— Querida, você irá beber isso para conseguir atravessar à porta, do outro lado você irá comer um pedaço bem pequeno desse bolo. Quando você estiver do tamanho normal, feche os olhos e se imagine em seu quarto — explicou White pausadamente, assenti com a cabeça e suspirei desconsolada.
— Eu não queria voltar — murmurei tristemente, White comprimiu os lábios, ele também parecia muito desolado.
— Você vai voltar — ele murmurou, mas parecia lembrar mais a si mesmo do que a mim. — Você vai voltar, senhorita, e nós estaremos aqui, esperando por você!

Então eu me joguei nos braços de White e o abracei bem forte. Como posso me apegar tão rápido a esses rapazes? Eu acabei de conhecê-los!
White me abraçou, no começo meio exitante, mas depois ele me apertou forte entre seus braços e eu respirei fundo, tentando controlar a súbita vontade de chorar, odeio despedidas.
Quando saí de seus braços eu encontrei March a minha espera, foi a primeira vez que o vi sem um sorriso nos lábios desde que encontramos o Stan. Eu o abracei também, ele foi mais receptivo no começo que White, mas eu não liguei.

— Você pode fechar os olhos e se lembrar de nós sempre que quiser, docinho — disse Cat, quando me virei para ele.
— Docinho? Bem, com certeza vou querer me lembrar disso — brinquei, ele riu e me abraçou apertado em seguida.

White resmungou alguma coisa quando nos separamos e eu percebi que ele olhava para o sol, que estava terminando de se por. Ao longe de uma montanha nós pudemos ver o exército aparecer, eu comecei a me desesperar, mas Cat me segurou pelos ombros e sorriu, um gigantesco sorriso tão afável e carinhoso que eu logo me esqueci de me desesperar.

— Vá! Vá agora, Allin! — gritou White, ele abriu a portinha minúscula e jogou o bolo pequenino lá para dentro, a garrafa estava em minhas mãos, mas eu não estava pronta para ir, sentia que faltava algo muito importante.

Foi quando vi Mad quietinho atrás de March, ele olhava para todos os lados, preocupado e agitado, meu coração se apertou, o exército se aproximava cada vez mais rápido, mas ignorei o meu bom senso e corri para Mad, ele suspirou aliviado quando eu o abracei.

— Pensei que havia se esquecido de mim — ele sussurrou.
— Nem em um milhão de anos — murmurei em resposta.
— Allin!! — gritou White, desesperado.
— Beba, beba agora — ordenou Mad, mas não me soltou.
— Mad — murmurei desolada, mas o obedeci quando seu olhar de reprimenda se tornou feroz.

Abri a minúscula garrafa e bebi todo o conteúdo que tinha dentro, a princípio não senti nada, olhei intrigada para Mad, seus olhos lacrimejavam e meu coração se comprimiu.
Então, antes que o exército se aproximasse mais, antes que eu ficasse tão pequena quanto um caroço de feijão, eu fiz o que jamais faria na vida real. Eu o beijei.
A comoção foi geral, ouvi os arquejos surpresos de Cat, March e White. Mad ficou espantado com a minha ação, mas não demorou para que ele segurasse meu rosto com as duas as mãos e me beijasse de volta, com toda a paixão e intensidade que um dia eu sonhei em ter de Mad Hatter.
Eu encolhi, literalmente, nos braços de Mad. Fiquei do tamanho do seu dedo médio, ele me encarou com os olhos brilhantes e me segurou na palma de sua mão.

— Okay, eu vou levá-la para a porta antes que seja tarde demais. Não se esqueça de mim, Allin Broke, você estará sempre em meus pensamentos — ele murmurou a medida que caminhava em direção à porta.

Mad me deixou na entrada, olhei para os quatro rapazes que me encaravam e, ao longe, na entrada da Floresta Densa, eu consegui ver Cater Pillar acenando com uma mão e segurando o narguilé com a outra, ele me fez sorrir. Acenei uma última vez para os rapazes e fechei a porta à minha frente.
A sala era enorme, estava iluminada, mas eu não sei como. O bolo foi parar longe e eu tive que correr para alcançá-lo, ele estava do meu tamanho, o que era bizarro e ao mesmo tempo deliciosamente tentador.
Como White mandou, eu comi um pedacinho pequeno, enquanto esperava o efeito do bolo, eu me sentei em um canto e me lembrei dos lábios de Mad sobre os meus, por sorte eu comecei a crescer antes que resolvesse voltar para os braços de Mad.
Enquanto sentia meu corpo se esticar, eu fechei os meus olhos e imaginei estar deitada em minha cama, como eu me lembro de estar antes de vir parar no País das Maravilhas.
Quase chorei quando as minhas cobertas roçaram os meus braços e pernas nus.




"Você é o homem certo para mim."
"Eu sabia quem eu era esta manhã, mas eu mudei algumas vezes desde então."
  




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